Era 31 de dezembro. Eu estava na esteira, forçando meu corpo a esmagar a dor, a expelir o veneno que corroía minhas veias. Cada passo era uma tentativa de fugir daquele sentimento de fracasso, da traição que ecoava em minha mente. Eu me debatia com a lembrança das minhas próprias palavras, da minha última tentativa de me declarar, e da resposta fria que havia recebido.
Foi então que a vi. A cena durou apenas um instante, mas me queimou como uma imagem eterna. Um homem passou de moto, com uma calça jeans marrom e uma camisa azul. Atrás dele, uma mulher de cabelos longos e dourados, abraçando sua cintura. Eles pareciam perfeitamente encaixados, um retrato de intimidade que antes me pertencia.
Eu gelei.
A dor que eu tentava queimar na esteira parou, e a única coisa que senti foi um calafrio que começou nos meus pés e subiu pela espinha, congelando cada osso. Eu não precisava de mais nada. O corpo dela colado ao dele, como tantas vezes fora o meu, me contou a história toda. A risada dela, abafada pelo vento, parecia zombar das minhas lembranças. A forma como ele virou a cabeça para falar algo em seu ouvido, um gesto tão familiar…
Meu corpo se rendeu antes que minha mente pudesse. As pernas falharam, o estômago se revirou em uma onda de nojo. Corri da esteira para me encolher no chão, abraçando os próprios joelhos, gritando em silêncio enquanto as imagens se multiplicavam.
E então…
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