Ao mergulhar nas histórias ocultas sob o vasto manto verde da Floresta Amazônica, nos deparamos com uma dolorosa constatação: o lobo mau não é uma criatura mítica, mas sim a personificação da violência e da negligência humana. Esse "lobo", que ronda o imaginário infantil, assume formas reais e devastadoras, ceifando infâncias e marcando vidas. Escrevo este prólogo não como um observador distante, mas como um ser humano profundamente inquieto com a realidade que desvelamos.
A proteção da dignidade sexual das crianças e adolescentes não é apenas uma obrigação legal; é um imperativo moral e social. Contudo, na prática, o sistema jurídico frequentemente falha em sua missão de garantir essa proteção. Por trás dos processos judiciais, estatísticas e dispositivos legais, há histórias como a de Lia e outras meninas da floresta. Elas não são números em relatórios; são vidas marcadas por um sofrimento que poderia ter sido evitado.
O direito, enquanto instrumento de justiça, deveria ser uma lanterna a iluminar os recônditos mais sombrios da sociedade. Porém, muitas vezes, sua luz não alcança as vítimas que mais necessitam. A análise crítica deste livro parte da constatação de que a aplicação do direito penal em crimes contra a dignidade sexual ainda é, em muitos casos, seletiva, ineficaz e permeada por preconceitos.
Este trabalho é, antes de tudo, um convite à reflexão: será que nosso sistema jurídico é suficientemente forte para enfrentar os predadores da floresta? Será que valorizamos, como deveríamos, a palavra das vítimas, especialmente em crimes que deixam marcas mais psicológicas do que físicas?
Escrevo como alguém que acredita na capacidade de transformação do direito e, mais ainda, na força do ser humano em sua luta pela justiça. Este livro não é um conto de fadas, mas um apelo por mudanças concretas. E, ao final, uma certeza ecoa: proteger a infância não é apenas um dever jurídico; é o que nos torna, verdadeiramente, humanos.
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