Nada do que foi escrito tem como intenção auxiliar quem pretende afastar-se, parcialmente ou na totalidade, das redes sociais. Este não é, portanto, a receita detox ou o manual de instruções que talvez procurem. Contudo, uma motivação para tal, assim espero. Tudo o que se segue aconteceu e foi escrito, exclusivamente, durante os trinta dias deste meu afastamento virtual. Nada do que aconteceu foi planeado ou programado. Era uma vontade que tinha, quase uma urgência de evasão de tudo o que me consumia as horas e nada devolvia em troca. Apenas ansiedade. Tinha acabado de terminar uma relação e, três dias depois, fui despedido do trabalho. Foi num desses ataques de pânico que entendi o quão impreterível essa vontade se tornara. Mentiria se dissesse que aconteceu da noite para o dia. Demorei pouco mais de um mês a preparar-me psicologicamente. Comprei um bloco de notas e uma caneta de tinta preta permanente. Voltar a escrever pareceu-me a desculpa que procurava. Não avisei ninguém. Continuaria comunicável. Na noite anterior, desliguei os dados móveis, meti o despertador para o dia seguinte e fui dormir.
Os dias que se seguiram foram de silêncio e de abstenção. Foi afastar-me do mundo para o ver mais perto. Sem interrupções e sem conflitos. Libertar-me das redes sociais foi ir à raiz mais profunda da minha existência. As saudades de ser criança, do abraço da minha mãe, do cheiro a mar, observar os pássaros e querer também voar. Anotei tudo. Li muito. Escrevi mais ainda. Reencontrei o gosto pela escrita no papel. Voltei a ter fé. Superei o medo e a ansiedade. Vivi apenas o que é real e interessa, a vida tal e qual como ela é, sem espelhos e sem filtros. Eu estava vivo e ninguém sabia. O mundo continuaria sem mim. Só as folhas do caderno testemunhavam a minha existência. Com os dias, aprendi que chegar a um lugar sozinho não é caminhar em vão. O vento sobre a cara lembrou-me, várias vezes, que estava vivo e isso bastava. Chegar ao fim foi concluir, de coração imenso, que um dia de cada vez chega.
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