
A primeira narrativa – O sonho de um homem com uma vida sem sentido – é um mergulho brutal e lírico na psique de alguém à beira do abismo. A maneira como o narrador expõe seu sofrimento, a perda da fé, a revolta com Deus e o sentimento de abandono é ao mesmo tempo dolorosa e verossímil. O ponto alto, sem dúvida, está na reviravolta onírica que mistura simbolismo religioso, culpa, redenção e sentido. É impossível não lembrar de Dostoiévski – especialmente Memórias do Subsolo e O Sonho de um Homem Ridículo. Mas o texto de W. Augusto traz algo singular: uma entrega crua, autobiográfica, que ultrapassa o artifício literário e se aproxima da confissão. Há trechos tocantes que beiram o insuportável em termos de dor emocional – e é exatamente aí que o texto brilha. Não é um texto "belo", no sentido clássico; é verdadeiro, e por isso profundamente comovente.
A segunda narrativa – O Cândido – tem uma estrutura diferente, mais narrativa do que filosófica, com um protagonista cuja história, embora marcada por amor e tragédia, ressoa com uma voz mais social, contemporânea e direta. É uma espécie de confissão de um homem à beira do colapso – desta vez por amor e fracasso pessoal. Ainda que menos carregada de simbolismo metafísico do que a primeira, essa segunda estória complementa o conjunto como um espelho: se a primeira busca redenção pela espiritualidade e pela revelação, a segunda expõe a desintegração emocional diante da perda e da desesperança.
Número de páginas | 115 |
Edição | 1 (2025) |
Idioma | Português |
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