
Tudo começou com uma imagem: uma linha de terra recortando o mar.
Não havia enredo, nem personagens. Apenas a sensação de que alguma
coisa — remota, talvez irrecuperável — esperava por ser dita.
O livro não foi planeado. Cresceu por acumulação.
Um verso esquecido num caderno, uma frase escutada ao acaso, uma
memória de infância misturada com uma paisagem.
As palavras foram aparecendo como cacos numa escavação.
Nem sempre sabiam o que queriam dizer.
Às vezes, nem eu.
É possível escrever a partir do vazio?
É possível nomear o que já não tem nome?
A linguagem falha, escorrega, hesita. Mas mesmo assim insiste.
Talvez escrever seja isso:
um gesto de persistência no meio do silêncio.
Estes poemas não contam uma história.
Eles orbitam um lugar,
como satélites desgovernados à procura de um centro que nunca aparece.
Se há uma unidade aqui, ela não está no enredo,
mas na atmosfera —
o que fica quando o vento passa.
Número de páginas | 100 |
Edição | 1 (2025) |
Idioma | Português |
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