
Zenda se reinventa a cada dia. É surpreendente, inquietante, viva — mas, neste momento, vive sob o impacto de uma crise que parece tocar suas entranhas mais profundas. As forças que deveriam harmonizar o corpo político — o Legislativo, o Judiciário e o Executivo — já não dialogam. Falam em códigos distintos, ruídos atravessam a comunicação institucional, e o país fictício, reflexo nítido de muitos reais, mergulha em divisões que dilaceram sua própria identidade.
As casas legislativas de Zenda foram ocupadas por seus próprios representantes — não para legislar, mas para protestar. Um grupo expressivo de parlamentares se insurge contra decisões do Judiciário, em uma cena que mais parece teatro de espelhos quebrados: cada ator denuncia o outro como inimigo da liberdade, enquanto o público — o povo — assiste atônito, dividido, cansado.
O que espanta, e talvez revele o paradoxo mais profundo, é o deslocamento simbólico das ideologias. A direita de hoje clama por pautas que, até pouco tempo, pertenciam à esquerda. Já a esquerda — ao menos parte dela — assume práticas e posturas que lembram a direita autoritária de 1964. É como se o tempo dobrasse sobre si mesmo, e Zenda, perdida nesse labirinto, já não soubesse mais quem é quem.
Há ainda, é verdade, uma esquerda fiel a princípios humanistas e democráticos, mas ela parece cada vez mais isolada, cercada de ex-aliados que se comportam como herdeiros da velha Arena: abraçam o Judiciário como força salvadora e entregam nas mãos da toga
ISBN | 9786500804270 |
Seitenanzahl | 205 |
Ausgabe | 1 (2025) |
Format | Pocket (105x148) |
Einband | Taschenbuch ohne Klappen |
Farbe | Schwarz-Weiß |
Papiertyp | Uncoated offset 75g |
Sprache | Portugiesisch |
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