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Tony Jack de Jesus e Vivi Passeaud apaixonam-se durante as filmagens de “BeatVale”, filme dirigido por Márcio Vaccari. O explosivo romance é narrado em forma de POESIA e desenvolve-se em 5 movimentos: No primeiro, Tony Jack é arrebatado pela exuberância física de Vivi. No segundo entregam-se aos prazeres da Carne em Brasa. O terceiro é pautado pela suposta traíção. A vingança explode no quarto e no quinto tem que ler pra saber.
ISBN | 978-65-002-0311-0 |
Número de páginas | 97 |
Edição | 1 (2021) |
Formato | Pocket (105x148) |
Acabamento | Brochura s/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Cream |
Idioma | Português |
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Márcio Vaccari é diretor de cinema, teatro e tv. Ator, dramaturgo, poeta, letrista e músico. No cinema dirigiu longas, médias e curtas, alguns premiados. Na tv fez humor e arte. Escreveu peças, publicou livros e lançou discos. Parceiro de Júlio Barroso, Guilherme Arantes, Cazuza, Reubes Pess, entre outros. É torcedor da Portuguesa de Desportos sendo sobrinho-neto de Augusto Vaccari, fundador e ex presidente do Palmeiras, na época Palestra Itália.
Em tempo: Torcer pela Lusa é mais que paixão; é metáfora. Torcer pela Lusa é estar do lado dos vencidos.
OS MICROFILMES DE MÁRCIO VACCARI _ ARTE URGENTE E ITINERANTE
Por Tony Marmo – DR. Em Filosofia pela UFRJ
PAULO CÉZAR PEREIO COMPARA MÁRCIO VACCARI A ZÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA
Texto de análise inspirado na entrevista de Paulo César Pereio concedida a Cláudio César Helvécio de Freitas, coordenador do Mistau (Museu da Imagem e do Som de Taubaté) em março de 2010.
Esta análise visa apenas contextualizar e expandir os significados socioculturais de seu depoimento.
1. Comparação estética e radicalidade entre Zé Celso e Vaccari
Ambos artistas são reconhecidos por uma arte de ruptura, por recusarem concessões, por serem radicais em suas linguagens. Zé Celso, com seu teatro antropofágico e místico-político, e Vaccari, com um cinema de trincheira, guerrilheiro, sujo no melhor sentido, visceral, antropofágico, poético libertário com ecos no teatro, na música e nas artes plásticas. A diferença que Pereio destaca é o lugar que cada um ocupa: Zé Celso, apesar do radicalismo, foi alocado dentro da "grande arte"; Vaccari, não. Vaccari é visto como periférico, como um “indesejável”, não apenas por sua arte, mas por sua biografia.
2. A exclusão por motivos biográficos e políticos
Ser filho de desaparecida política (Ellena Vaccari) e ter sido criado por uma mulher torturada e violentada pelo regime (Troll) são aspectos que Pereio vê como determinantes. A memória da ditadura, para além da estética, impregna o corpo e a obra de Vaccari. Há uma marca de origem que incomoda a elite: Vaccari não apenas denuncia a opressão — ele é a lembrança viva da barbárie institucional. Isso torna sua figura incômoda demais para ser assimilada pelo sistema cultural dominante.
3. O sarcasmo como arma imperdoável
Talvez o trecho mais contundente da fala de Pereio seja quando ele diz:
“Você pode denunciar corrupção, eles ficam putos, mas acabam aceitando, agora rir da cara da elite, debochar da elite, isso é imperdoável.”
Aqui está o cerne da marginalização de Vaccari. Ele não apenas questiona — ele ridiculariza. E isso desarma, isso expõe a elite ao vexame público. É diferente de uma crítica séria, formal, esperada. Vaccari transforma o riso em insurreição. No Brasil, o riso subversivo sempre foi mais temido que o protesto sério.
4. Ações simbólicas e populares como o “Vermelhão” e o “Trem do Horror”
Esses episódios mostram como Vaccari trabalha com arte como ação direta. O "Vermelhão" desestabiliza a estrutura cultural da cidade ao dar protagonismo ao povo — não com sambas “luxuosos”, mas com inventividade e crítica. Já o “Trem do Horror” vira símbolo popular, com impacto real na dinâmica política. O fato de um grito artístico gerar reações em eventos cívicos e quebrar o braço de uma deputada (!) mostra a força simbólica (e real) da arte de Vaccari.
Conclusão
A fala de Pereio é um tributo, mas também um alerta. O Brasil marginaliza não apenas os radicais, mas especialmente os radicais que riem — que zombam da autoridade, que recusam a dor como única linguagem e optam pela ironia, pelo grotesco, pelo escracho como forma de luta. Vaccari, como artista e símbolo, carrega tudo isso: a dor histórica, a irreverência, a linguagem experimental, a recusa ao mercado e às instituições, e um riso que fere mais do que qualquer denúncia protocolar.
Excelente relato de Paulo Cézar Pereio— ele ajuda a contextualizar de maneira rica a importância dos MicroFilmes de Márcio Vaccari como expressão artística, política e alternativa. A própria forma de circulação clandestina em latas com fundo falso ou pacotes de cigarro reforça a ideia de arte como resistência. Além disso, os títulos que funcionam como sinopses carregam uma força poética e crítica que é quase uma assinatura estética desse formato.
OS MICROFILMES DE MÁRCIO VACCARI – ARTE URGENTE, POÉTICA E SUBVERSIVA
A trajetória dos MicroFilmes de Márcio Vaccari é uma das mais ousadas e criativas do cinema independente esteticamente latino-americano. Produzidos em Super 8 entre os anos 1974 e 1980, esses MicroFilmes desafiam os limites entre cinema, poesia, ativismo e performance.
Com títulos que funcionam como sinopses — “Lili Foi Dar Aula de Geografia e Sumiu do Mapa”, “Poeta Bom é Poeta Morto – No Vale, a Leitura é Literal” ou “Magaba Foi Jogar Uma Pelada – Voltou Pelado Crivado de Bala” — os filmes são pequenos manifestos visuais que retratam com mordacidade as contradições políticas e sociais da época.
A escolha do Super 8 não foi apenas estética, mas também estratégica: leve, portátil e de fácil projeção, o formato permitia uma circulação rápida e popular. As exibições aconteciam em ruas, escolas, associações de bairro — e até mesmo em velórios. Mais do que filmes, eram ações culturais em estado bruto, com forte impacto direto no público.
Durante os anos 70 e 80, os MicroFilmes circularam clandestinamente pela América Latina. Através dos encontros organizados pela Juventude Socialista Latino-Americana, as cópias eram transportadas escondidas em latas com fundo falso, pacotes de cigarro e outros recipientes inusitados — prática que ajudava a driblar a censura dos regimes autoritários da época.
Na década seguinte, os MicroFilmes ganharam o continente europeu, com exibições especiais e mostras organizadas em países como Portugal, Espanha, Itália, França, Alemanha, Inglaterra, Bélgica e até União Soviética. Em várias dessas sessões, a curadoria ficou por conta do escritor e produtor brasileiro José Luís Pasin, parceiro frequente de Vaccari nas artes cênicas e cinematográficas.
Com uma obra que dialoga diretamente com o Cinema Marginal, o Tropicalismo, a Poesia Marginal e o Teatro do Oprimido, Márcio Vaccari transformou seus MicroFilmes em documentos vivos da insurgência artística brasileira — viscerais, anárquicos e necessários.
MicroFilmes de Márcio Vaccari Numerados de 1 a 41 e Lançados entre 1974 e 1980
01) A Revolta dos Brinquedos ( "0:02" – 1974)
02) KALUNGA ("0:01" 1974)
03) VISSUNGO ( "0:01" – 1974)
04) Diz Aparecida ("0:01" – 1975)
Quadro 1: ELLENA E FIAH BIGUH
Quadro 2: FIAH BIGUH
Quadro 3: VAZIO
05) Boca Fechada Não Entra Mosca Mas Também Não Sai Palavra ("0:01" – 1976)
06) Seja Marginal Seja Herói. Uma Ode a Hélio Oiticica e Cara-de-Cavalo ("0:03" – 1976)
07) UM TIRO BASTAVA. O RESTO FOI CRUELDADE ("0:01" – 1976)
Sinópse: Parede com cartaz do poeta Beat Vale Draga sangra e escorre pela parede.
08) O DESAPARECIMENTO É A MAIS CRUEL TORTURA ("0:01" – 1976)
Sinópse:
Quadro 1: ELLENA, FIAH BIGUH, LILI, MARGARIDA
Quadro 2: FIAH BIGUH, LILI, MARGARIDA
Quadro 3: LILI, MARGARIDA
Quadro 4: MARGARIDA
Quadro 5: Vazio
09) VARAL DE VISCERAS (1”00 – 1976)
10) MANÉ FOI DANÇAR E DANÇOU (1”00 -1976)
11) GAZELLA GRÁVIDA DE UM PORCO SUICIDA-SE NA PISCINA DA PANTERA
(1976 – 1”00)
Sinópse:
12) TIO CÔDO FOI PRESO POR ALFABETIZAR ADULTO E PROMOVER ARRASTÃO DE MEDICINA PREVENTIVA. NA PRISÃO SUICIDARAM-NO COM A CORDA MI DO SEU CAVAQUINHO (1”00 -1976)
Sinópse: O título do filme é a sinópse.
13) INFERNO DE 73 – UM DIA EXORCISO, VOMITO OS BICHOS QUE TRAGO DENTRO DE MIM, ECLODINDO ENFIM, A TÃO SONHADA REVOLUÇÃO INTERNA TEMPERADA A SENTIMENTO, DESTILADA EM LÁGRIMAS (1”00 -1976)
Sinópse: Márcio Vaccari, um garoto de 10 anos chega em sua casa e encontra seu pai Márcio Beatnik no sofá da sala tendo uma overdose e vomitando compulsivamente. No quarto inundado, de sangue, encontra seu irmão bebê caído próximo ao berço. Na cozinha encontra sua mãe Troll nua, amarrada numa cadeira e tomando choque nos bicos dos peitos que escorrem leite. Militares perguntam sarcásticamente: Quer tomar choque no pintinho, Marcinho da mamãe? Encurtando a história: Minha mãe foi pra Cuba. Meu pai foi internado no Bairral pra se livrar das drogas, meu irmão foi pra casa da minha vó Maria Abdalatif virar a criança que eu nunca fui e EuS mergulhei de cabeça no mar quântico das infinitas possibilidades que desaguam em EuS pra sobreviver à barbárie.
14) Lili Foi Dar Aula de Geografia e Sumiu do Mapa (1”00 – 1976)
Sinópse: Lili, atriz e poeta que sobrevivia como professora foi dar aula de geografia e desapareceu.
15) Margarida Foi Comprar Pão e Virou Sonho (3”00 -1976)
Sinópse: Margarida Flores, atriz e poeta foi na padaria comprar pão e desapareceu.
16) Magaba Foi Jogar Uma Pelada Voltou Pelado Crivado de Bala ( "0:01" -1976)
Sinópse: Magaba, poeta e músico foi jogar uma Pelada Poética e foi metralhado pelo esquadrão da morte.
17) Poeta Bom É Poeta Morto. No Vale a Leitura É Literal (1”00 -1976)
18) A Morte de Márcio Vaccari (3”00 -1977)
19) Varal de Vísceras (1”00 -1977)
20) Brasil Ame-o ou Deixe-o (0”10 – 1977)
21) INDIGNAÇÃO E SUPER 8 (1”00 – 1977)
22) Ele Está No Meio de Nós! Oremos! Assim Falou Zaratustra??? (1”00 – 1977)
23) Colesterol, Vingança Póstuma do Boi (1”00 – 1977)
24) Invasão Corintiana Ao Maracanã (2”00 -1977)
25) Loh, A Última Imagem É a Que Fica??? (1”00 -1977)
26) A Seleção Canarinho É Um esquadrão… da MORTE !!! (1”00 -1977)
27) Lupa Jagger (1”00 -1977)
Sinópse: O poeta Beat Vale Lupa Jagger dança de forma subversiva a música “90 milhóes em Ação”, hino da seleção canarinho tri-campeã do mundo de 1970.
28) Poesia Marginal (1”00 – 1977)
Sinópse: Uma colagem fílmica sobre a Poesia marginal.
29) Terrorista É a ditadura militar Que Tortura e Mata!!! (1”00 1977)
30) VIRANDO FUMAÇA: Chimboto, Fiah, Lili, Margarida vão virando fumaça até desaparecer e o quadro ficar Vazio (1”00 – 1977)
31) PAPIRA MAN (1”00 – 1977)
32) Não Acredito Em Conto de Farda (1”00- 1977)
33) A Grande Noitada Foi Sublimada Pela Presença de Troll (1”00 – 1977)
34) RASGA MORTALHA (1”00 – 1977)
35) O TROMBONE – Revolução na Senzala (2”00 -1977)
36) Quem Matou Herzog ??? (1”00 -1977)
37) NECROMANCIA POÉTICA – 1 minuto (1978)
38) ARMA OU ÁCIDO??? - 2 minutos (1979)
39) Vestida de Sangue – 1 minuto (1980)
40) EU FILMEI UM POETA NO PAU-DE-ARARA, MAS ERA SÓ SONHO – 1 minuto (1980)
41) MARIA VAI COM AS OUTRAS E ENCONTRA A SANTA EM SI MESMA NUM PUTEIRO – 1 minuto (1980)
Essa impressionante e extensa lista de microfilmes de Márcio Vaccari, realizados entre 1974 e 1980, é um verdadeiro mapa da radicalidade estética, política e poética do artista em sua juventude. Trata-se de um corpo de obras que poderia ser classificado como uma "filmografia de guerrilha lírica", marcada por:
• Duração curtíssima (a maioria dos filmes tem 1 minuto e alguns apenas 10 segundos),
• Conteúdo altamente politizado e experimental, muitas vezes com títulos já funcionais como manifestos,
• Uma estética de colagem, poesia visual, escracho e violência simbólica,
• Um misto de autobiografia, crítica social e performance marginal.
A seguir, apresento uma análise geral por blocos temáticos e estéticos:
🔥 1. Fase Inicial (1974–1975): O Lúdico e o Arquetípico
Filmes como:
• A Revolta dos Brinquedos, Kalunga, Vissungo, Diz Aparecida
Aqui ainda se nota um traço mais simbólico ou sensorial, com influência de rituais afro-brasileiros (Kalunga, Vissungo) e um lúdico de contorno surrealista (A Revolta dos Brinquedos). São esboços de linguagem.
🩸 2. 1976 – Explosão Marginal e Denúncia Política
Essa é a fase mais brutal e urgente. Títulos como:
• Seja Marginal Seja Herói, Um Tiro Bastava, O Desaparecimento É a Mais Cruel Tortura, Gazella Grávida..., Tio Côdo..., Inferno de 73, Lili Foi Dar Aula..., Magaba Foi Jogar...
Com forte influência de Hélio Oiticica, cinema marginal, e a repressão militar, Vaccari cria microfábulas de assassinatos poéticos, com personagens reais como Ellena, Fiah, Lili, Margarida, Magaba, Tio Côdo — mártires da cultura, da educação e da arte popular.
O estilo dessa fase é brutalista e alegórico: cenas de tortura, choque elétrico nos mamilos, sumiços de artistas, professores-poetas, esquadrão da morte matando músicos, a seleção brasileira como entidade genocida.
Essa é a fase onde Vaccari estrutura sua poética do "terror lírico".
☠️ 3. 1977 – Delírio Pop-Poético e Poesia de Resistência
Exemplos:
• Varal de Vísceras (repetido em 77), Brasil Ame-o ou Deixe-o, INDIGNAÇÃO E SUPER 8, Ele Está No Meio de Nós!, Colesterol..., Invasão Corintiana..., Loh, A Última Imagem, Lupa Jagger, Poesia Marginal, Terrorista É a Ditadura, PAPIRA MAN, Não Acredito em Conto de Farda
Aqui a abordagem é mais colagem, quase uma videoarte rudimentar feita com recursos mínimos mas altamente simbólica. O futebol vira alegoria de extermínio, o corpo do artista é o suporte da denúncia.
A metalinguagem também aparece: Indignação e Super 8 é um autorretrato da precariedade técnica como força estética.
🔮 4. Fase Final (1978–1980): Ritual e Transgressão
Filmes como:
• Necromancia Poética, ARMA OU ÁCIDO???, Vestida de Sangue
Essa trilogia final parece caminhar para uma mística da subversão. A violência continua, mas mais ritualística. A linguagem sugere um deslocamento: do choque explícito para uma reconfiguração do corpo e da morte como resistência.
📌 Temas Recorrentes e Padrões
• Desaparecimentos: Ellena, Lili, Margarida, Tio Côdo — são "sumidos" políticos/metafóricos.
• Morte do artista marginal: Magaba, Beat Vale, o próprio Vaccari ("A Morte de Márcio Vaccari").
• Crítica ao militarismo e tortura: títulos e sinopses não deixam dúvidas sobre o enfrentamento da ditadura.
• Corpo como campo de guerra: leite, sangue, convulsões, nudez forçada, tudo é representação da brutalidade social/política.
• Humor negro e ironia: Títulos como “A Seleção Canarinho é um Esquadrão da Morte” expõem a máscara da euforia nacional.
🎥 Considerações Finais
A coleção desses 41 microfilmes compõe uma obra digna de uma mostra completa em instituições como o IMS, CCBB ou Cinemateca Brasileira, ou até mesmo festivais experimentais internacionais.
Márcio Vaccari, já em sua juventude, apresenta uma visão singular e extremamente potente da arte como ato político, resistência e delírio poético. Esses microfilmes são documentos vivos de uma geração torturada, que encontrou na arte sua válvula de escape — e seu grito de guerra.
LONGAS DIRIGIDOS POR MÁRCIO VACCARI
Márcio Vaccari dirigiu alguns longas:
Em Tempo:
00) JOHNNY PSICOPATA (Começou a ser rodado em 1978 e só será finalizado com a morte de Márcio Vaccari)
01) A MOTO O MOTO CONTÍNUO A MOTO O MOTO CONTINUO – COMA (1980)
02) ÓPNIS – OBJETOS POÉTICOS NÃO IDENTIFICADOS (1987)
03) BEAT VALE (1992)
04) EU(S) UM FILME QUE NUNCA MORRE (Filme abandonado em 1993)
05) NaQUEBRADA (1994)
06) O NOSSO ED WOOD É PIOR (1995)
07) ALÇA DE MIRA (Filme Interrompido por conta da morte da atriz MARISA LOBO em 2006)
08) SANTO DE CASA – CARNE ESTICADA NA MAQUINA (2013)
🎥 SANTO DE CASA — Esticando os Nervos da Máquina
Por Tony Marmo (Dr. Em Filosofia Pela UFRJ)
"Santo de Casa – Carne Esticada na Máquina" é um dos filmes mais controversos e viscerais da cinematografia brasileira contemporânea. Dirigido por Márcio Vaccari, o longa cunhou a impactante estética "Carne Esticada na Máquina", um conceito cinematográfico radical que expõe o corpo — físico, social e simbólico — sendo moído, distorcido e sacrificado pelo sistema.
No filme, não há narrativa linear. Em vez disso, o espectador é jogado dentro de uma espiral de cenas performáticas, colagens visuais, distorções de tempo e ruído estético. O corpo dos atores é o próprio suporte da linguagem: esticado, gritado, cuspido, fragmentado em delírios imagéticos. A carne aqui é metáfora e matéria-prima. A máquina — sistema opressor, engrenagem social, indústria cultural — tenta triturar tudo. Mas a carne resiste. Se estica. Grita. Goza. Morre. Renasce.
Essa experiência estética foi premiada em Portugal (Festival de Linguagem Radical de Lisboa) e na Itália (Mostra Cinematográfica de Linguagens Experimentais de Florença), onde o filme foi saudado como uma obra-prima da dissonância poética. Críticos europeus compararam Vaccari a Antonin Artaud filmando com o espírito de Pasolini e a fúria de Glauber Rocha.
Apesar disso — ou talvez por causa disso —, Santo de Casa nunca foi lançado no Brasil.
Por quê? Estaria CENSURADO?
A ausência do filme no circuito brasileiro levanta questões que transcendem o mercado. Vaccari nunca confirmou abertamente censura institucional, mas já declarou em entrevistas que "há formas de censura mais eficazes do que a proibição: o silêncio, a indiferença e o boicote institucional."
Especialistas apontam:
• O filme incomoda: ataca símbolos, desmoraliza estruturas, não oferece consolo.
• Não há espaço para sua forma: o longa ignora qualquer formato comercial e rompe com o padrão de montagem, som e dramaturgia.
• O discurso é perigoso: no país da conciliação estética, Santo de Casa é confronto bruto.
É possível que não haja censura oficial, mas sim algo mais perverso: a censura branca, o veto velado, o desprezo editorial, o bloqueio de acesso. Como um profeta urbano sem púlpito, o filme foi exilado da própria terra, ecoando o ditado que lhe dá nome: Santo de Casa não faz milagre.
Mas faz cinema. E que cinema.
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