A força dos que resistem e a sanha dos que atacam

Os ataques às religiões de matrizes africanas, seus territórios, às pessoas que as vivenciam, seus símbolos e imaginários é um fenômeno complexo, que tem exigido cada vez mais categorias que possibilitem analisá-lo adequadamente na busca de um melhor enfrentamento a essas violências.

Este livro mergulha em uma dessas categorias, o racismo religioso, buscando compreender de que modo tal ideia envolve uma intensa negociação com as identidades das pessoas pertencentes aos terreiros, tensas relações com o Estado, acirramento da demonização dessas religiões, os alcances e limites da ideia de intolerância religiosa para pensar as violações que atingem essas crenças e práticas.

Sem dúvida, uma das grandes contribuições deste livro é a abordagem da dimensão do racismo religioso que se conecta com a apropriação cultural, elemento pouco abordado nas discussões anteriores sobre o conceito, nos apresentando uma faceta sofisticada e hostil deste fenômeno que sequestra, deturpa e se beneficia com os saberes e práticas produzidos pelos terreiros e outras matrizes negras da cultura brasileira, ao mesmo tempo que vilipendia a mesma experiência histórica que produz esses elementos.

Ao dialogar com a bibliografia e, também e sobretudo, com pessoas pertencentes aos terreiros, este livro nos convida a nos atentarmos para as sofisticações que o racismo e seus ataques às heranças negras no Brasil e, também, para as maneiras de pensar e nomear as violências racistas que estão em curso em nosso país.