Sotúrnicas

Nem todo conto de terror é escrito para dar medo. Às vezes, ele é escrito para transmitir uma ideia incômoda. Uma sensação de que algo não se encaixa, enfim. Essa é a ideia de Sotúrnicas, do autor Felipe Rodrigues, que reúne 30 contos que transitam pelas sombras, mas nem sempre para assustar. As histórias podem ser entendidas como sonhos ruins que não chegam a virar um pesadelo. Narrativas que parecem esperar que você diga o que elas significam. Aqui, o horror vive dentro das fotografias, em um copo de leite com nata ou em uma procissão de pessoas com os olhos vendados. Também pode estar numa distopia onde os corpos adquirem autonomia e colocam em xeque as vontades da mente. Ou ainda em uma rosa amaldiçoada que carrega o peso de um amor maldito. Com uma prosa econômica, Felipe Rodrigues explora o terror como atmosfera. Sotúrnicas é um convite a atravessar a escuridão por caminhos inesperados, onde o medo, às vezes, é apenas a forma como nomeamos o que não compreendemos.